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Metodologia: "Transecto linear"



Já vimos na seção de métodos de amostragem a busca ativa, um método bem comum e utilizado no estudo de vários grupos da nossa fauna. Vimos também que esse método tinha seu esforço medido, principalmente, pelo tempo e quantidade de pessoas fazendo a busca. Mas e se, ao invés do tempo, fosse utilizado a distância percorrida para medir esse esforço? Então pegue sua bota, bastão de caminhada e binóculo, que dessa vez a trilha vai ser longa.

O transecto linear possui um princípio bem parecido com a busca ativa, contudo, como mencionado acima, no “transecto” a distância percorrida é a principal forma de medir o esforço amostral (a quantidade de energia gasta com o método em questão). Após definir a área de estudo são traçados transectos, linhas retas (quando possível), e com uma extensão pré-definida. A pessoa que realizará o estudo caminhará ao longo da linha em um ritmo constante, registrando os animais foco de seu trabalho, como aves, mamíferos, répteis e anfíbios. Ao registrar é importante pegar todos os dados possíveis: “o animal está no chão?”, “se está na vegetação, qual altura?”, “está se alimentando?”, “está sozinho ou andando em grupo?”, caso seja um grupo: “quantos indivíduos o grupo possui?”, "qual a distância que o animal está do transecto?”.

A extensão do transecto pode variar a depender do objetivo da pesquisa. Caso queira verificar qual a diferença entre as espécies que ocorrem próximas a um rio e mais mata adentro, um transecto de 5 km pode ser uma boa opção (RAPELD), iniciando na margem do rio e indo em um ângulo reto em direção a mata. Em contrapartida, caso o objetivo seja registrar a maior quantidade de espécies possíveis, espalhar transectos menores (1 km) por diversos ambientes pode ser mais vantajoso.

Este método é muito utilizado em diversos estudos com fauna pelo Brasil. O custo é baixo, pois depende apenas dos equipamentos individuais de quem realizará a pesquisa. Contudo, dependendo da quantidade ou do tamanho dos transectos, pode ser bastante exaustivo. Caminhar 5 km na mata pode não ser uma tarefa fácil, principalmente em locais com muitas subidas, chuva, lama e áreas alagadas. Sem contar que para alguns grupos é necessário que o percurso seja feito no período da manhã e da noite, como para mamíferos e répteis. Acredite, caminhar por mais de 20 km por dia nessas condições pode resultar em muitas bolhas, unhas encravadas, e um pé destruído pelo rói-rói (expressão usada quando entra alguns grãos de areia entre a meia e o pé, resultando em ralados bem dolorosos, só quem já viveu sabe!).

Contudo, sempre existe o lado positivo, que se você está lendo este texto com certeza entenderá. A possibilidade de ter um encontro que sempre sonhou durante essas longas caminhadas é muito maior do que nos poucos minutos que demoraria para instalar uma camera-trap ou uma linha de pitfalls. Então lhe garanto que, mesmo após caminhar 20 km, dar de cara com uma onça-pintada (Panthera onca), uma harpia (Harpia harpyja) ou uma periquitamboia (Corallus caninus) fará cada passo ter valido a pena.

Um ponto importante de ressaltar é que, assim como na busca ativa, a inclusão de registros indiretos, como pegadas, fezes, bolas de pelo e trocas de pele (no caso de serpentes e lagartos) também são registros válidos. Dados de história natural também são bastante comuns de serem obtidos com este método, bastando paciência e um pouco de sorte é possível presenciar predações, cópulas, competição por fêmeas ou território, vocalizações e cuidados parentais.

Então, apesar de parecer desgastante, no fim das contas uma boa caminhada mata adentro pode proporcionar bons encontros, belas paisagens e boas histórias. Sendo assim, não esqueça da água, do filtro solar, capa de chuva e de prestar muita atenção, afinal, andar 10 km e não ver a onça-parda passar do seu lado é imperdoável.

Arte: Natália Lavínia A. de Souza;

Texto: Diego G. Cavalheri;

Pesquisa: Raphael Martins; Keity Souza;

Texto Instagram: Keity Souza; Raphael Martins.

Referências bibliográficas:

Consalter, L.C. Ecologia de mamíferos de médio e grande porte em uma paisagem agrícola no estado de São Paulo. 2018. Acesso em: 06 de Junho de 2022. Disponível em: <https://tede2.unisagrado.edu.br:8443/jspui/handle/tede/388>.

Cunhas, F.P. Monitoramento de mamíferos terrestres de médio e grande porte. 2013. Acesso em: 06 de Junho de 2022. Disponível em: <https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/Protocolo_mamiferos-Caatinga.pdf>.


Roos, F. L. O uso de transectos lineares para o monitoramento da mastofauna arborícola na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá – Amazonas - Brasil. 2010. Acesso em: 06 de Junho de 2022. Disponível em: <https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/38858/000791714.pdf>.


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