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Fauna Silvestre Urbana


Até 2050 90% da população viverá nas grandes cidades. Assustador, não?! Isso se dá pela urbanização que vem crescendo cada vez mais, devastando várias áreas verdes para que haja o crescimento da área urbana.

A escassez de áreas de vegetação nativa e preservada, juntamente com a grande quantidade de queimadas e até mesmo estiagens faz com que os animais silvestres acabem saindo de seus habitats naturais já muito fragmentados ao entorno das cidades, seja à procura de outras áreas ou em busca de alimento e abrigo, o que causa alguns conflitos com os humanos e animais domésticos.

Ver animais silvestres fazendo das áreas verdes urbanas como praças e parques sua nova casa é muito comum. Mas isso gera alguns estresses, como o contato destes com animais domésticos abandonados ou criados soltos, por exemplo, que pode acarretar na transmissão de doenças, na competição por recursos, na predação e em acidentes.

Uma das maneiras de evitar a interação desses animais com a moradia urbana é evitando o fácil acesso a alimento, água e abrigo, também conhecidos como os 3 A’s, principalmente no controle de animais sinantrópicos, os animais que interagem de forma desarmônica com a população humana, propiciando riscos à saúde pública, na qual uma boa parte das espécies desses animais são os vetores, ou seja, reservatórios de vírus, bactérias, entre outros organismos patogênicos passíveis de transmitir e propagar doenças. Estas doenças denominam-se zoonoses, ou seja, são transmitidas dos animais ao homem ou do homem aos animais por condições naturais ou acidentais.

Diferente da fauna silvestre que vive no seu habitat natural, a fauna urbana silvestre é o conjunto de animais que é mais comum estarem perto de nós, interagindo com a vida na cidade, principalmente as chamadas espécies sinantrópicas, que são aquelas que se aproximam muito da nossa moradia porque esses animais tem como subsídio principalmente os nossos resíduos, já que dependendo das condições que nós damos ao nosso ambiente, seja ele a nossa casa ou fora dela, favorecemos a atração desses animais ao local como entulhos, lixo exposto e outros tipos de atrativos.

Muitas vezes a população acha legal alimentar alguns dos animais que surgem em suas casas, como por exemplo pequenos mamíferos e aves, com o pensamento errado de que eles possam estar passando fome ou porque não é nada demais, porém isso só faz com que eles venham a procurar cada vez mais o acesso livre às residências, já que tiveram alimento de maneira fácil e até mesmo água e abrigo. Isso gera um grande problema não só para a sua moradia, como principalmente para a fauna silvestre, atrapalhando por exemplo no nicho ecológico desse animal ao meio ambiente em que ele se insere. Com o tempo, tendo livre acesso a alimentos de fácil consumo, não vai mais ter o interesse em buscar livremente na natureza.

Além de atrapalhar a busca natural de alimentos na natureza, promover alimentação inadequadas à fauna silvestre acarretam em alteração no metabolismo do animal, desfavorece o gasto energético e o exercício de suas habilidades e comportamentos naturais e instintivos, promove uma dieta desbalanceada, favorecendo o aparecimento de doenças nutricionais e outras que normalmente os animais não teriam, como diarreias, diabetes e muitas outras, gera desequilíbrios no ecossistema e na dinâmica das espécies que coexistem na área e pode inclusive interferir até mesmo no processo de dispersão de sementes.

Devemos evitar não só alimentar mas como ter o contato direto com estes animais de vida livre por conta da possibilidade de transmissão de doenças, tanto do animal para o homem quanto do homem para o animal, principalmente.

Entre a primavera e verão ocorre o período reprodutivo e de amamentação de muitas espécies de animais, inclusive da fauna urbana, sendo possível encontrar filhotes. Então primeiramente deve-se observar se o animal está machucado. Caso o animal não esteja com ferimentos, observar se há algum ninho por perto, se os adultos estão próximos e se o local está seguro de possíveis predadores. Nestes casos, a opção mais recomendada e segura é deixá-lo onde está e não interferir em seu ciclo natural.

Durante o período reprodutivo de algumas espécies, as fêmeas ficam mais lentas e buscam locais seguros para ficarem com os filhotes. Um exemplo bastante comum é a presença de gambás em imóveis urbanos, os forros e telhados são lugares muito preferidos por alguns desses animais. Nesses casos, o melhor é deixá-los em paz até que terminem o ciclo reprodutivo, que costuma durar poucas semanas. Se não for possível aguardar, basta espantá-los calmamente para fora da casa ou quintal. Ou então, esperar que o animal saia com os filhotes e aproveitar a oportunidade para impedir o retorno deles ao local.

Você deve estar se perguntando “Mas como seria então, se as áreas urbanas fossem desabitadas?”.

Na Pandemia de COVID-19 foi possível observar novas espécies de animais silvestres adentrando às cidades como a onça parda de Santiago e os javalis da Itália e da Espanha, já que nós estávamos fora das ruas, gerando um certo conforto para esses animais explorarem novos ambientes, além da questão de que os índices ambientais apresentaram melhoras como a notável baixa da poluição nas grandes cidades nos primeiros meses de confinamento.

Além disso, o turismo teve uma queda drástica nesse período e nos locais onde a rotina turística tem um grande impacto sobre a fauna silvestre local, os animais saíram em busca de comida, como os grupos de macacos na Tailândia que estão acostumados a receber comida dos turistas que visitam o local todos os dias, fazendo com que gangues de macacos fossem à cidade em busca dos poucos recursos disponíveis, até mesmo tomando o prédio da prefeitura local.

Aqui no Brasil não foi diferente, onde em Volta Redonda-RJ, foi registrada a presença de um lobo-guará perambulando pelas ruas vazias explorando e buscando alimento.

É facilmente observado que em todo o mundo, a existência de algumas espécies da fauna silvestre que, devido às suas características biológicas e ecológicas, possuem habilidade para conviver nas áreas urbanizadas. Com isso, em 2014 surgiu um projeto chamado “Aprendendo a conviver com fauna silvestre em áreas urbanas”, realizado pelo professor Roberto Rodrigues Veloso Júnior, do Centro de Ciências Agrárias (CCA), da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), que tem o objetivo de informar e instruir a população, em especial os mais jovens, a conviver e evitar conflitos com a fauna silvestre urbana juntamente da fauna sinantrópica, pois isso é fundamental para a diminuição do número de óbitos destas espécies.

Assim, o projeto possui duas vertentes, de primeiro momento é feito o contato com os diretores, professores, coordenadores e supervisores de escolas da rede pública e particular, onde a equipe se desloca até as escolas para apresentar o projeto, normalmente nos períodos de planejamento dos professores, com o objetivo de estimular a participação da escola.

No segundo momento é realizada a visita ao IBAMA/CETAS, o Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres de São Luís, local onde estão os animais silvestres resgatados e entregues espontaneamente pela população. No CETAS os visitantes recebem as informações sobre como conviver com os animais silvestres nas áreas urbanas e visitam as instalações onde os animais estão sob cuidados.

Nestes dois momentos, são expostos todos os problemas e possíveis soluções para minimizar os acidentes que normalmente levam os animais a traumas e até mesmo ao óbito.

“Como resultado, o monitoramento dos dados estatísticos de entrada dos animais sinantrópicos e sem–floresta no IBAMA/CETAS são bons, pois apesar do aumento no número de entradas das espécies no período de execução do projeto 2014-2019, o número de óbitos vem diminuindo. Evidentemente sabemos que outros fatores influenciam o resultado, mas acreditamos que o projeto tem sua importância, apesar das dificuldades em medi-la”, destacou o professor Roberto.

E assim o professor pode concluir que “os animais silvestres sinantrópicos são importantes na ecologia urbana, apesar de suas funções pouco conhecidas, como o controle de roedores realizado pelos rapinantes (corujas). Os roedores são agentes disseminadores de zoonoses, em especial, em áreas com precária infraestrutura (saneamento). A fauna sem-floresta representa importante indicador de mudanças ecológicas importantes, em especial, mudanças climáticas locais causadas pela fragmentação, degradação e desmatamento das florestas nativas”.

Quando nos deparamos com animais em áreas urbanas, como gambás, morcegos, lagartos, ouriços, pequenos primatas, ou mesmo capivaras que, em geral são os maiores visitantes das nossas residências, devemos deixá-los tranquilos, pois normalmente já estão acostumados a conviver com o local e, muitas vezes estão apenas de passagem.

Os animais silvestres são fundamentais para manter o equilíbrio ecológico e graças a eles, que fazem o controle e reduzem a quantidade de animais nocivos muito comuns nas cidades como baratas, moscas, aranhas e escorpiões. Além disso, a fauna silvestre ajuda a manter os parques das cidades vivos e em harmonia, o que equilibra o clima local, a disponibilidade hídrica da cidade e os ambientes de lazer.

Contudo, em algumas situações, quando os animais estão feridos, presos ou em risco, recomenda-se entrar em contato com os órgãos ambientais da sua região, facilmente encontrados na internet. Em geral os conflitos com a fauna são simples de se resolver, com uma orientação adequada, mas quando cabível e necessário, os Institutos podem realizar o resgate do animal, ou ainda orientar a busca de apoio de alguma instituição parceira como um Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres.

O processo de urbanização e a retirada da vegetação natural para atividades humanas, principalmente as atividades de finalidades agropecuárias, transformaram profundamente os ambientes naturais, levando à fragmentação de habitats e afetando severamente a composição de diversas comunidades da fauna silvestre, dificultando a obtenção de abrigo e alimento de forma natural, refletindo diretamente na sua capacidade reprodutiva e manutenção de populações minimamente viáveis, e facilitando uma convivência maior com os seres humanos, que muitas vezes ocorre de maneira negativa. Diante deles, temos que ter paciência e respeito, já que os verdadeiros culpados dessa interação somos nós mesmos que ocupamos e modificamos cada vez mais o habitat natural da fauna silvestre.

Por fim, retirar um animal silvestre de seu hábitat natural ou o transportar para outros espaços é expressamente proibido e perigoso. Algumas espécies são únicas e estritamente presentes naquele hábitat, o que chamamos de espécies endêmicas. Maltratar qualquer tipo de animal é crime conforme o artigo 29° da Lei Federal n° 9.605/1998, que declara como crime contra a fauna matar, perseguir, caçar, apanhar, coletar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, com a pena variando entre detenção de seis meses a um ano e multa.


Arte: Natália Lavínia A. de Souza;

Texto: Mariana G. Furquim;

Pesquisa: Aline Freiria dos Reis; Leonardo Plens;

Texto Instagram: Aline Freiria dos Reis.


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Sarah Mângia

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